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Ginecologia

 

Dr. Artur Coimbra  &  Dr. Rui Artur Coimbra

Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra

 

Maternidade Dr. Daniel de Matos


A Ginecologia literalmente significa "a ciência da mulher", mas na medicina é a Especialidade que se dedica à prevenção, planeamento, diagnóstico e tratamento de doenças do sistema reprodutor feminino (genitais externos, vagina, útero, ovários e glândulas mamárias). Aqui são esclarecidas as dúvidas do sistema reprodutor e actividade sexual, os métodos contraceptivos e planeamento familiar, forma de prevenir das doenças sexualmente transmissíveis, profilaxia e tratamento das doenças orgânicas e funcionais do aparelho genital feminino, rastreio e tratamento do cancro genital e mamário.

O que é uma consulta de Ginecologia? E em que consiste?
Na primeira consulta, em primeiro lugar, são feitas perguntas de rotina, para que o médico conheça a história clínica da paciente. Perguntas como: quando surgiu a primeira menstruação; se o ciclo menstrual é regular; se a menstruação é acompanhada de dores mais ou menos fortes; se já teve relações sexuais; se utiliza algum método contraceptivo; se já teve alguma gravidez, bem ou mal sucedida; se existe alguma doença crónica na sua família, entre outras.

No caso de já ter iniciado a actividade sexual, além da habitual colpocitologia (o célebre exame de Papanicolau ou citologia do colo do útero), feita durante o exame ginecológico de rotina, pode ser feito um rastreio mais fino às doenças sexualmente transmissíveis. É também esta a ocasião mais indicada para uma conversa sem preconceitos sobre o método anticonceptivo mais adequado a utilizar por cada paciente, em particular.

Nas consultas de rotina faz-se o exame ginecológico. Atenção! O exame não dói! Trata-se, afinal, de um exame ao corpo, neste caso, a uma parte específica. Além do exame pélvico, o exame mamário faz parte do exame ginecológico de rotina. Este último, inclui a observação e exame físico. Um dos aspectos mais importantes deste exame é que a mulher tenha confiança no seu ginecologista e não lhe esconda nada do que sentiu ou está a sentir durante o exame. Se for a primeira vez e se sentir mesmo insegura, pode e deve pedir ao Ginecologista que lhe explique o que vai fazer.

Para fazer o exame, a mulher fica deitada de costas na mesa ginecológica, com os pés apoiados num suporte e as pernas afastadas. Durante o exame o médico usa sobretudo as mãos (com luvas esterilizadas), podendo recorrer a alguns instrumentos, como o espéculo, para facilitar o acesso e visibilidade na zona vaginal e permitir a visualização total do colo do útero e realização da citologia. É também feito o toque bi-manual, exame durante o qual o médico introduz dois dedos na vagina, ao mesmo tempo que coloca a mão sobre o abdómen, a fim de sentir os órgãos genitais (como o útero) e sentir se há alguma alteração (de posição, por exemplo) significativa a assinalar.

 

O exame termina, as amostras vão para o laboratório e, mais tarde, o Ginecologista analisará os resultados.

Há algumas ideias erradas que ainda existem na cabeça de muitas pessoas:


1. O exame ginecológico não dói.
2. O toque bi-manual não provoca perda de virgindade.
3. Os instrumentos utilizados, nomeadamente o espéculo, também não provocam a ruptura do hímen, sobretudo porque o seu tamanho varia com as características anatómicas da mulher.

Em que idade deve ser feita a primeira consulta de ginecologia?

A primeira consulta poderá apenas ser de esclarecimento de dúvidas, sobre o funcionamento do aparelho reprodutor, os métodos contraceptivos e a necessidade do preservativo como única forma de prevenir das doenças sexualmente transmissíveis. Não implica necessariamente o exame físico!

Pode acontecer durante a adolescência e é fundamental antes do início da vida sexual. Se tal não acontecer, é imprescindível realizá-la logo após a primeira relação sexual. O Ginecologista é um médico, um profissional que é a fonte mais fidedigna de informação correcta no que toca à sexualidade e à saúde reprodutiva. É a ele(a) que se pode e deve fazer todas (mesmo todas) as perguntas, por mais embaraçosas, patetas ou até escabrosas que elas nos pareçam. E é na posse de informação correcta que, sem medos nem mitos, poderemos disfrutar de uma vida sexual plena

Com que regularidade se deve consultar um ginecologista?

Estando tudo bem, como consulta e exame de rotina, deverá ser realizado uma vez por ano.

O que é a citologia do colo do útero?

 

Citologia do colo do útero, colpocitologia ou teste de Papanicolau é o exame que permite observar as células do colo do útero. Consiste na passagem de uma escova no colo do útero para colheita de células, que depois são observadas no laboratório. As células são examinadas para verificar se têm alterações potencialmente perigosas, isto é se são pré-cancerosas ou cancerosas. É um exame muito simples e absolutamente indolor, realizado no decorrer do exame ginecológico.


Como aparece o cancro do colo do útero?

 

Como descrito, as células do colo do útero são as mais susceptíveis a alterações pré-cancerígenas e cancro. Até à actualidade, apenas se identificou um agente causador destas lesões e cancro, o Papiloma Vírus Humano (HPV), vírus comum na nossa sociedade e de transmissão preferencialmente através do contacto sexual, embora haja outras formas de contágio ainda não completamente esclarecidas. Este vírus, associado a outros factores, tem a capacidade de modificar a célula e transformá-la numa célula cancerígena. Numa primeira fase aparece uma lesão pré-cancerosa. Se estas lesões não forem detectadas e tratadas atempadamente podem evoluir para cancro. Esse processo não é imediato. Desenvolve-se ao longo de anos, sempre sem qualquer sintoma!

Quais as mulheres que correm risco?

Todas as mulheres que já tiveram uma relação sexual, mesmo com o uso de preservativo, poderão desenvolver um cancro do colo do útero. Naturalmente e felizmente, nem todas as mulheres com contacto com HPV virão a ter um cancro, estas serão uma minoria e pode ser potenciado por outros factores pessoais e hábitos, como por exemplo o tabagismo.


 

Como se detecta uma lesão pré-cancerosa?

A realização periódica de uma citologia do colo do útero é a forma mais simples de o fazer. No entanto, mais importante que a citologia, é a observação ginecológica por um Especialista experiente. Todos os testes têm falsos positivos e falsos negativos, tal como a citologia. Assim, uma citologia normal e um exame ginecológico muito suspeito pode detectar um cancro! Nem sempre uma citologia normal é tranquilizadora.

O que fazer com uma citologia anormal?

Quando o teste revela células perigosas, deve-se realizar uma colposcopia. Este exame consiste na observação do colo do útero com um microscópio, o que permite identificar as lesões e fazer uma biopsia dirigida ao local mais suspeito. A biopsia consiste em retirar um pequeno fragmento para estudo. Não é um exame doloroso, salvo a biopsia que provoca um incómodo leve e passageiro.


 

As lesões pré-cancerosas têm tratamento?

Estas lesões são tratáveis e curáveis na grande maioria dos casos. O tratamento é simples e indolor, e consiste na destruição ou excisão das lesões por laser, criocirurgia ou electrocirurgia. Em casos excepcionais  é necessário retirar o útero.

Em que consiste a prevenção?

A melhor estratégia de prevenção é associar o exame ginecológico, o rastreio com citologia e a vacinação contra o HPV. Esta última é segura e altamente eficaz. Actualmente faz parte do Plano Nacional de Vacinação e é gratuita para as jovens nascidas após 1 de Janeiro de 1992; nas mulheres nascidas anteriormente também está recomendada, no entanto o seu preço actual é limitativo á prescrição generalizada.

Quando de deve começar a realizar a citologia?

A primeira citologia deve ser feita 2 a 3 anos após a primeira relação sexual, mesmo que não tenha actividade sexual regularmente. Se o primeiro teste for negativo deverá repetir anualmente.


O que é Planeamento Familiar?

O Planeamento Familiar é onde se planeia a família - tanto aumentá-la como o evitar. Esta é a grande área de intervenção da Ginecologia. A contracepção da era moderna permitiu separar o sexo da procriação e teve como consequência a diminuição da natalidade, mas também contribuiu de forma significativa para a saúde e bem-estar da mulher e da criança, espaçando os nascimentos, diminuindo as mortes maternas na gravidez e no parto, bem como uma melhor saúde e cuidados dos filhos em número desejado e limitado. Na verdade, actualmente, a grande maioria das mulheres passa a sua idade reprodutiva a evitar engravidar e apenas um curto espaço de tempo a preparar e planear uma gravidez. Hoje em dia, são poucos os casais que pretendam mais que dois filhos, mas têm o direito de viver a sua sexualidade de forma livre e saudável.


A grande multiplicidade de métodos veio permitir uma escolha adequada e personaliza para cada casal, aumentando a sua eficácia e minimizando os seus efeitos secundários indesejáveis. Todos os métodos contraceptivos têm vantagens e desvantagens, sejam eles métodos mecânicos como os preservativos e DIU´s (Dispositivos Intra-Uterinos) quer hormonais, como as pílulas, selo, anel vaginal ou implante. Actualmente estão disponíveis no mercado dezenas de formulações de contracepção hormonal oral, genericamente chamadas “pílulas”, permitindo uma escolha bastante personalizada consoante variadíssimos características da mulher. Naturalmente todos têm efeitos indesejáveis e/ou contra-indicações.

 


Toda a contracepção deve ser individualizada a cada paciente ou casal. “O que usa sua melhor amiga é desaconselhado para si” ou “o que usa a sua irmã gémea é contra-indicado para si” ou ainda “o método que usou nos últimos 20 anos já é desaconselhado para si actualmente” são frases comuns em ginecologia e espanto para muitas mulheres! Cada casal deve adequar a contracepção às suas características pessoais, atendendo a múltiplas variantes desde a eficácia contraceptiva, idade, peso, doenças associadas, tabagismo, etc. Dê sempre destaque ao que é mais importante - a saúde física, mental e psicológica do casal, em especial da mulher. As primeiras “pílulas” e o desconhecimento sobre os seus efeitos a longo prazo levou a generalizarem-se vários mitos que se provaram não corresponderem à realidade. Sabia que a “pílula” não provoca cancro da mama? Sabia que previne o cancro do ovário e do endométrio? Sabia que previne a doença benigna da mama? Aproveite a consulta para colocar todas as suas dúvidas.

 


Com que frequência deve ser revisto o método contraceptivo?

Havendo uma boa adaptação não há necessidade de mudança. A periodicidade das consultas anuais poderá ser mantida, com excepção do uso do DIU (dispositivo intrauterino) que passa a ser semestral, principalmente quando é o primeiro e em idades mais jovens. A mudança da pílula poderá ser recomendável se, para além do efeito contraceptivo, se justificar outros benefícios que algumas pílulas têm, nomeadamente a nível da pele, cabelo ou para debelar os sintomas menstruais. No entanto, a vida vai evoluindo e surgem alterações inevitáveis, como a idade, bem como outras evitáveis, como o excesso de peso ou o tabagismo; assim o contraceptivo usado, principalmente o hormonal, deve ser adaptado à fase de vida.


 

Que contraceptivo recomenda a uma mulher que não pretende usar um método hormonal?

As alternativas são poucas. Como método definitivo e considerado irreversível existe do lado feminino a obstrução ou laqueação de trompas e do lado masculino a vasectomia. Em mulheres que pensem numa solução a médio-longo prazo, o dispositivo intra-uterino (DIU) pode ser uma boa opção, já que a sua eficácia prolonga-se até aos cinco anos e pode ser retirado em qualquer altura, para além da sua inocuidade de efeitos secundários. Naturalmente um dos principais métodos é o preservativo, apesar da sua interferência no acto sexual, se bem usado é uma método eficaz e único que permite a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis. Os chamados métodos naturais, tais como o coito interrompido ou o método calendário, pela sua alta taxa de falhas e incómodo prático foram abandonados do uso comum.


 

O que marca o início da menopausa e quando é considerada precoce?

A menopausa por definição é a cessação dos períodos menstruais naturais durante um ano. Pelo que, clinicamente, o seu diagnóstico é retrospectivo. Mas a instabilidade hormonal pela claudicação dos ovários pode começar até dez anos antes do desaparecimento das menstruações, manifestando-se pelas irregularidades menstruais e afrontamentos. O desaparecimento da menstruação antes dos 40 anos deve ser estudado pois considera-se uma menopausa precoce patológica. No entanto, entre os 40 e os 45 anos, pelas implicações que impõe à saúde da mulher, considera-se clinicamente como precoce.

Quando é indicada a terapia hormonal (TH)?

A TH deve ser considerada em todas as mulheres na peri e pós-menopausa, desde que não existam contra-indicações. Beneficia todos os órgãos e sistemas (pele, sistema nervoso, cardiovascular, urogenital) permitindo uma transição suave do periodo pré-menopausa para o pós-menopausa.