Infertilidade
Dr Artur Coimbra & Dr Rui Artur Coimbra Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Maternidade Dr Daniel de Matos
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define Infertilidade como a incapacidade de um casal conseguir gravidez após um ano de relações sexuais regulares sem contracepção. No entanto, a OMS defende que a realização de exames complementares de diagnóstico mais invasivos apenas deve ser considerada ao fim de dois anos de infertilidade. Claro que em algumas situações da prática clínica o diagnóstico é imediato, como por exemplo antecedentes de laqueação das trompas ou ausência de espermatozóides (azoospermia) já conhecidos. Estima-se que 10% dos casais demorem um tempo superior a um ano a obter uma gravidez. Assim é necessário conceder um prazo razoavelmente alargado antes de iniciar uma avaliação diagnóstica ou terapêutica intempestiva, porque muitas situações serão apenas de sub-fertilidade e resolver-se-ão espontaneamente. Em alguns casos, pode ser necessário iniciar a investigação antes deste período, por exemplo em mulheres com mais de 35 anos. Estima-se que nos EUA e Europa ocidental a infertilidade afecta 15% a 20% dos casais em idade fértil. Relativamente a cada casal, diz-se que a infertilidade é primária quando não houve gravidez anterior e secundária se houve gravidez, independentemente do seu desfecho. O termo Esterilidade refere-se ao homem ou a mulher e não ao casal - é a incapacidade de concepção por métodos naturais (ex. ausência do útero, ausência de espermatozóides, etc). Para além das implicações individuais, como a depressão, ansiedade, etc. é um importante problema de saúde pública, com repercussões sociais, económicas e demográficas. Em 2008, a população Portuguesa pela 1ª vez não cresceu, atingindo a estabilidade, embora à custa do crescimento da população migratória.
Fecundação natural A fecundação é o processo pelo qual o espermatozóide e o ovócito se unem, possibilitando a formação de um ovo (zigoto) e de um embrião. Esta união decorre nas trompas de Falópio, assim como as primeiras divisões celulares, chegando o embrião ao útero cerca de 5 dias após a fecundação para a respectiva implantação (nidação). Esta capacidade do embrião penetrar no endométrio ocorrerá por volta do 7º dia do desenvolvimento embrionário. Para que a fecundação e a gravidez ocorram, entre muitos outros factores, é necessário que: - Em cada mês, um dos ovários desenvolva um folículo (um “quisto” de líquido que vai crescendo e que, ao atingir cerca de 17 mm de diâmetro, conterá um ovócito maduro) e ocorra a ovulação (rotura do folículo, com a possibilidade de passagem do ovócito para a trompa). - A produção de espermatozóides pelos testículos seja normal ou próxima dos valores normais. É interessantíssima a constatação da enorme diferença relativamente à produção de gâmetas entre os dois sexos: para que a capacidade reprodutiva seja normal, para a mulher é suficiente que um dos ovários produza um ovócito por mês, enquanto para o homem é necessário que os testículos produzam milhões de espermatozóides... por dia. - A relação sexual aconteça em “período fértil”. - As trompas estejam permeáveis à passagem dos espermatozóides e também funcionalmente normais para a captação do ovócito e para “transportarem” o embrião para a cavidade uterina. - O ovócito e o espermatozóide sejam estrutural e funcionalmente normais de modo a possibilitar a fecundação e a evolução embrionária (a maioria dos embriões terá anomalias cromossómicas pelo que, em regra, a selecção natural inviabiliza o seu desenvolvimento). - O endométrio esteja receptivo à implantação do embrião.
Causas de Infertilidade Na maioria das ocasiões em que há dificuldade em engravidar, surge um “peso” sobre a parte feminina. A própria ou a sociedade tem essa tendência do personificar na vertente feminina! No entanto, hoje, com a evolução da Medicina Reprodutiva e Cientifica sabe-se que apenas 30-40% dos casais com dificuldade em obter gravidez é motivado por causa feminina. Outros 30-40% são de causa masculina. Em tempos, não muito longínquos, os próprios homens se recusavam a colocar essa hipótese, bem como nunca se submetiam a exames e análises. Em cerca de 10% existem alterações em ambos os membros do casal. Apesar da evolução da Medicina Reprodutiva ainda persistem 10-20% de casais em que não se consegue identificar o motivo da infertilidade.
Investigação das causas de infertilidade Para detectar a causa da dificuldade de concepção o médico assistente deve estabelecer um diálogo com o casal, esclarecer dúvidas e procurar recolher informação que possa ser útil na identificação dos factores implicados na infertilidade. Devem ser abordados aspectos como: - Características dos ciclos menstruais; É fundamental que o médico assistente peça exames para fazer uma adequada avaliação pré-concepcional do casal.
Consulta de Infertilidade Na primeira consulta é feita uma história clínica pormenorizada do casal, abordando os aspectos anteriormente referidos. alterações. Deverá ser feito um cuidadoso exame ginecológico. Um aspecto importante da primeira consulta diz respeito à avaliação do impacto que a dificuldade em engravidar está a ter na vida do casal. Se for necessário o casal poderá ser estimulado a uma consulta de psicologia. A investigação complementar poderá incluir: - Fact. Masculino – análises de rotina e especificas e espermograma. histeroscopia e laparoscopia.
Histerossalpingografia: é um exame radiológico (Rx) após instilação de um contraste intra-uterino para avaliação dos contornos da cavidade uterina e da permeabilidade das trompas, além de outras informações. Histeroscopia: exame que permite a visualização directa da cavidade uterina no sentido de detectar alterações que possam comprometer a implantação do embrião ou a evolução da gravidez. Laparoscopia diagnóstica: cirurgia realizada sob anestesia geral que permite a visualização directa da cavidade abdominal e que possibilita a associação de alguns actos cirúrgicos.
Abordagem Terapêutica Quando se termina a avaliação de um casal há que definir uma estratégia terapêutica. Para isto é necessário ter em conta a causa da infertilidade, a idade da mulher, a duração da infertilidade, os tratamentos anteriormente realizados e o custo das diferentes opções terapêuticas. Além da terapêutica específica de correcção de algum factor evidenciado na consulta e exames realizados, as opções terapêuticas podem -se dividir em tratamento médico e técnicas de procriação médica assistidas (PMA).
Se a indução da ovulação não permitir alcançar a gravidez, ou se o estudo realizado ao casal não legitimar a tentativa de resolver o problema da forma mais simples, estará indicado o recurso à Procriação Medicamente Assistida: inseminação artificial intrauterina, fertilização in vitro ou fertilização in vitro com microinjecção intracitoplasmática. |